19
Out20
Foi em Outubro
Rita Pirolita
Foi no meio de Outubro, mês de mudança, de sol baixo, envolvente e doentio de febre, de arrepio nocturno e manta de calor diurno no areal.
Acordei nesse dia de nascença com calma estremunhada, da noite em sobressalto pelas melgas que se escondem no fresco, prontas a vampirar o sangue dos Gulliver's que descansam amarrados à cama por sono profundo, de tornozelos e pulsos desnudados e indefesos com fina pele a cobrir os riachos subterrâneos de sangue, que as melgas sem nariz farejam à distância de quilómetros.
Não planeie nada, fiz o que me deu na gana com uns ameaços de sugestão de ir almoçar aqui e jantar acolá, acabei por ir petiscando o que me apetecia e à hora que me dava vontade.
Cheguei ao fim do dia como se um ano não tivesse passado, sem dar conta, envelheci mais um pouco.
Não é suposto que todos os dias, a cada minuto a vida inteira seja assim? Sem marcações ou planos, sem pressa, a fluir, a aceitar a vontade que o tempo traz, o desejo da comida que há, o calor dos que estão.
Não peço nada, apenas esperanço sem destino marcado que tudo de bom me cruze caminho!