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Tenho pena de pais que não participaram na revolução do nosso país, mesmo que mais tarde se tenha revelado ilusória, que ficaram em casa calados porque a incerteza os assustava e o regime era certo e paternal. Ideias políticas que se amordaçavam mesmo à saída dos lábios porque o voto sendo secreto é uma boa desculpa para o silêncio de uma vida inteira que evita conflitos, perseguições e despedimentos.
Os tempos avançaram mas não mudaram, a única diferença é que agora podemos eleger de uma lista controlada os que nos roubam, as mentes continuam presas ao medo da critica, da luta, da voz alta da indignação.
A informação tem dono e como um vírus cibernético deposita alienações nas cabeças dos mais antigos, 'os trabalhos já não são para a vida e a culpa é de quem não quer trabalhar', porque vidas anteriores foram gastas com dedicação escrava, na escola a levar vergastadas nas orelhas, no trabalho a cumprir horários e a lamber as botas ao gordo patrão, na vida a engolir sapos, a pagar impostos e contas a quem mais nos rouba e nunca fez nada pela vida a não ser enriquecer à custa da exploração do suor dos outros.
Tenho pena de quem torceu o nariz quando os retornados ocuparam facilmente cargos públicos, em vez de frontalidade justa, abusou de coscuvilhice doméstica para os acusar da novidade da droga, o tratar por 'tu' com uma falta de respeito pela parcimónia do antigo regime, a tão invejada descontração típica de locais mais quentes e onde a vida é mais gozada, regada com cerveja e comida picante.
Serve a desculpa que todos fizeram o melhor do seu pior?
Tenho pena que as bestas abrandem o mundo!
Esta é a insustentável leveza de um universo que não se move nem muito menos levita de tão feio e pesado.
A violência doméstica continua na ordem do dia. Vou falar dela pela perspectiva de quem já viu e viveu alguma coisa e está alerta para não repetir erros de outros ou deixar prolongar situações pouco agradáveis por comodismo.
Ao mesmo tempo que se alerta para a importância da queixa, o não sentir medo ou vergonha de expor a situação, por outro lado a sociedade empurra no sentido contrário, silenciando com criticas e rótulos quem sofre este tipo de violência tacanha, encurralando a vítima num beco de silêncio e solidão.
O agressor será sempre alguém sem escrúpulos que não tendo respeito por si também não sabe respeitar a integridade e espaço dos outros e cuja única forma de amar que conhece é doentia, agressiva, dominante e humilhante num desespero de esconder a sua própria insegurança e complexo de inferioridade. Atacar antes que o ataquem.
A vítima por outro lado, também ela mal amada ou nunca amada, sempre incrédula e descrente na felicidade, que não se sente no direito de viver, que é demais para agarrar, que não merece e não lhe pertence. A dor e mal estar são constantes num comodismo quotidiano.
Assim se convencem que têm que aguentar o sofrimento como uma cruz que carregam, segredado a algumas pessoas para angariar defensores da sua causa de comiseração e queixume, única forma de ter alguma atenção e pena, como um animal ferido que sorve parcas e mesquinhas manifestações de carinho e preocupação dos outros, que estão mais interessados em saber o que se passa do que em denunciar a situação ou mesmo ajudar.
No fundo tanto o agressor como a vítima sofrem do mesmo mal, baixa auto-estima e desamor, um manifesta isso com ódio, o outro com medo e submissão.
Se estas pessoas se cruzam na vida, a violência continua entre quatro paredes, com umas queixas aqui e ali, até um desfecho algumas vezes macabro.
Estas famílias direcionam toda a sua energia para o desentendimento e ficam assim alheados do resto, não conseguindo proteger os mais vulneráveis desta vivência.
Os filhos ou vivem e acumulam revolta e ódio generalizados por todos os que se aproximarem deles ao longo da vida, encontrando a melhor oportunidade para exorcizar este ódio nas relações intimas que vão tendo e destruindo, ou conseguem quebrar este ciclo, nunca incólumes de todo mas com a sanidade e clarividência suficientes para mudarem o curso das suas vidas, não voltarem a cometer os erros de que foram vítimas e conseguirem relacionar-se com o mundo de uma forma integrada, de partilha do melhor e esquecimento do pior.
Agressor e vítima só coexistem se ambos derem espaço um ao outro. Sem vitimização da vitima, o agressor dilui-se e perde força.
Gente criada com carinho e dedicação tem meio caminho andado para a felicidade, gente criada com pouco e mau, não deve desperdiçar muitas oportunidades para iluminar os cantos escuros da alma, que todos temos.
Medo:
de ser ignorado por ignorantes;
do cão e do vizinho;
do gluten, lactose e calorias;
do (gato) preto no (quarto) escuro;
do árabe fora da mesquita;
do padre ou da beata dentro da igreja;
do cabelo fora do sítio, do silicone rebentar ou infectar;
de não acreditar em Deus e líderes;
de não ter regras, ser controlado ou não ser protegido...
De não ter medo!