09
Ago20
Boîte de fronteira
Rita Pirolita
A cada dois meses pelo menos, o meu corpo faz um upgrade involuntário e automático do programa de GPS e baralha-se todo, nesta idade de mudança à qual chamo carinhosamente com alguma raiva, a segunda adolescência da meia-idade.
Tira-me do sério umas vezes sentir-me balofa e outras seca que nem carapau; umas vezes livrar-me de tudo e outras guardar toda a merda; andar deprimida e um pouco menos deprimida; irritada e um pouco menos irritada; começar a ver braços e coxas de manatim em qualquer espelho ou montra que reflita o meu vulto de elefante...sinto-me um trambolho!
Sinto-me tão sexy como um transformista camafeu reformado que ainda trabalha para matar a fome, numa qualquer boîte de fronteira.
Quem disse que as mulheres melhoram com a idade como o vinho do Porto?
Só mesmo os homens poderiam ter inventado esta expressão, para nos saltarem para a espinha sem terem que aturar as nossas queixas de pneus, pandeiro grande e falta de senso porque já não temos 20 anos e gostávamos tanto!