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Abr19
Vazio sem silêncio
Rita Pirolita
Em dias quentes de verão é bom passar por escolas em férias e gozar o silêncio de recreios com gritos mortos do ano que terminou, chão fértil para gritos vivos do ano que se segue.
Motéis que passam a nada no meio do nada por falência ou rotas abandonadas, palco de assassinatos, dealers, prostitutas, escapam pelas paredes caídas, gritos de prazer, gemidos de choro e deboche.
Esqueletos de fábricas, estaleiros e centrais nucleares, contorcem-se em ferrugem e suor cancerígeno.
O deserto deixado pelos sacrifícios da guerra, o choro de experiências em hospícios, os gritos incómodos e desesperados de almas sofridas, perdidas no limbo da loucura que se agarram aos nossos braços em jeito de boleia, nos dão a mão a pedir carinho e compaixão e nos deixam um nó na garganta de impotência para mudar o passado.