06
Jul20
Um conto ou dois
Rita Pirolita
Nem sei se vos conte um conto ou dois, sem acrescentar três pontos.
Eram assim aqueles dias de cabelo comprido, crespo e ondulado, os outros escorridos, loiros e brilhantes, alta e magra, joelhos negros de cicatrizes, outros alvos e gorduchos.
Semblante de cigana de bairro pobre, quase a viver na rua, com casa virada do avesso.
Sou líder da minha tribo e rodopio para me transformar em super-mulher, tão invencível que até os rapazes se baralham mas não se deixam ficar.
Serei sempre a rapariga que joga carica e berlinde, à macaca, ao canivete e ao pião, aos carrinhos de rolamentos, monta bicicleta alheia, e ao fim do dia olha para as bonecas mas mexe nos carrinhos.
Serei sempre a rapariga que joga carica e berlinde, à macaca, ao canivete e ao pião, aos carrinhos de rolamentos, monta bicicleta alheia, e ao fim do dia olha para as bonecas mas mexe nos carrinhos.
Televisão a preto e branco, escola à tarde, férias de verão em três meses de praia a perder de vista, dois de campismo, calor matinal, abrasador à tarde, noites cálidas, pão com manteiga e açucar, hortas de abelhas, moscardos e minhocas, ervilhas de cheiro e feijoeiros, correria na mata sem medos.
Regresso às aulas, fim de dias longos, começo de humidade, chuva e estrelas de Natal, frio invernal de galochas.
Amanhã o silêncio será quebrado mas agora vou dormir sem história nem conto...