30
Nov19
Contos da Estrelinha Serigaita - Nascimento
Rita Pirolita
se·ri·gai·ta
(origem duvidosa)
substantivo feminino
1. [Informal] Mulher ou rapariga ladina, espevitada ou respondona.
2. [Informal, Depreciativo] Mulher magra, geralmente pretensiosa ou irrequieta.
3. [Ornitologia] Ave trepadora.
O nascimento da serigaita estrelada deu-se em espaço de repasto aberto ao público, pertença de avós maternos que viviam por cima do negócio que atraia do Porto gente para o arroz de lampreia, cobra pintalgada de ventosa de rocha em água doce.
Por trás dos montes, nasceu em Outubro/Outono, noite dentro, tumultos de parteira, esperanto de dias, que o feto feito não queria sair e já veio com horas somadas em dias de atraso, em altura de máquinas que não olhavam entranhas, sabia-se do sexo pelo nariz da mãe, luminosidade da pele ou forma da barriga e pouco mais, as mais bonitas, as dos rapazes.
Mãe prenhe de 6 meses, parecia que sofria de ervilha plantada no ventre, aos nove e mais, parecia não grávida completa ainda.
Mesmo em atraso, a saída forçada com ferros fez estragos em couro cabeludo molinho, cheia de sangue placento e sangue seu que jorrava da cabeça, tenazes que lhe arrancaram cabelo com raiz, deixando cicatriz com feitio de América do Sul de pernas para o ar, uma pêra ainda pendurada na árvore, pele macia que expandiu com o crescimento, ainda que farta cabeleira nunca deixasse perceber a violenta marca da saída por entre pernas para o mundo.
Por trás dos montes, nasceu em Outubro/Outono, noite dentro, tumultos de parteira, esperanto de dias, que o feto feito não queria sair e já veio com horas somadas em dias de atraso, em altura de máquinas que não olhavam entranhas, sabia-se do sexo pelo nariz da mãe, luminosidade da pele ou forma da barriga e pouco mais, as mais bonitas, as dos rapazes.
Mãe prenhe de 6 meses, parecia que sofria de ervilha plantada no ventre, aos nove e mais, parecia não grávida completa ainda.
Mesmo em atraso, a saída forçada com ferros fez estragos em couro cabeludo molinho, cheia de sangue placento e sangue seu que jorrava da cabeça, tenazes que lhe arrancaram cabelo com raiz, deixando cicatriz com feitio de América do Sul de pernas para o ar, uma pêra ainda pendurada na árvore, pele macia que expandiu com o crescimento, ainda que farta cabeleira nunca deixasse perceber a violenta marca da saída por entre pernas para o mundo.
Gritos de dor de parto e aflição de morte à nascença, calma imposta pela parteira, que é muito experiente e conhece as profundezas do mistério fêmeo sem surpresa.
A ferida mostra-se inofensiva, sem ameaça de a mandar para o outro mundo sem antes dar o primeiro choro.
A magreza e feieza da menina não saiem com o banho, virá a beleza para lá dos 18.
Composta, já sem choro regressa à capital, onde pela primeira vez o pai a vê, não queria ele rapariga, queria rapaz para a bola...
A ferida mostra-se inofensiva, sem ameaça de a mandar para o outro mundo sem antes dar o primeiro choro.
A magreza e feieza da menina não saiem com o banho, virá a beleza para lá dos 18.
Composta, já sem choro regressa à capital, onde pela primeira vez o pai a vê, não queria ele rapariga, queria rapaz para a bola...