22
Jun20
Mormo e húmido
Rita Pirolita
De jantar em jantar lá vou reencontrando amigos envelhecidos e mudados e conhecendo melhor, conhecidos de conhecidos a quem me dera muitas vezes não ter conhecido!
Num jantar que se deu, nada espontâneo, marcadíssimo, com hora de entrada e sem hora de saída, lá aparecemos com vinho e bolinhos de côco.
Alguém se fez princesa com ar a condizer mas sem qualquer condição de o ser, abancou peida, fez-se de desentendida do trabalho que dá receber e esperou a toda a hora ser servida.
Entre tudo o que estava bom, nada estava mau e conversou-se até altas horas, até às despedidas tudo correu em morno lume de discussão.
O príncipe da princesa era fanhoso que doía, passei o jantar todo a desentender o que dizia, por falta de vontade e desinteresse natural, que pessoas sem vales ou curvas na alma me provocam, rectas de sono que me dão!
A princesa disse todas as barbaridades que lhe brotaram do tutano, convencida da sua realeza, vivida em reino de casinhas para alugar na capital!
Desfilaram a sua vida desimportante, duas gentes acasaladas, não querendo eu saber de quem nasceram, era importante não perpetuarem continuação, e assim eram sem filhos, dedicavam-se a uma vida de jejum e dieta, sem carbes, para ele de pele esverdeada, o glúten era veneno, para ela de cara vermelha de quem tem coração que vai rebentar a qualquer momento, uma dieta com 60% de gordura, era coisa de experimentar, porque naquela pobre cabeça, não entupia veias, pelo contrário, oleava tudo!
Estive o jantar todo a dedicar-me às pessoas que me diziam mais um pouco que os principescos sapos e quando já estava no limite de começar a lançar caralhadas para pegar fogo de uma vez ao palácio, saí-me com a desculpa meia verdadeira, das saudades do cão que tinha deixado em casa, duas ruas abaixo.
Despedi-me com vontade nenhuma de voltar a tocar bochechas mormas e húmidas, aos que gosto dei abraço apertado de até breve!