19
Jul20
Sem título não é título
Rita Pirolita
Porque fazem os artistas questão de pelo menos ter uma obra sem título, às vezes quase todas?
Edite um escritor um livro sem nome, de folhas em branco e lance uma nova agenda sem tempo, semanas ou meses, memos ou contactos de telefone para arrumar no devido sítio, por ordenzinha alfabética, andará tudo a dançar ao Deus dará, dentro de folhas feitas de lixo reciclado, cor moca desmaiada, sem marcas de orientação, que a vida já está tão pautada e desorganizada que uma agenda não salva a arrumação dos momentos, reuniões ou encontros marcados com tanta antecedência, que fazem cair a avidez do momento, em chegado se esquece, desmarca ou destrói.
Para que fazem então questão os artistas de arte não escrita, em não pôr nomes nas suas criaçõezinhas, para não coisificar?
A plebe que admira ou se faz entendida e engole a borrada ou até gostava de saber o que sentiu o famosinho ao fazer aquilo que fez.
Será que os autores da cagada pensam que a obra é tão boa que fala por si ou a imaginação é tão árida que nem eles sabem o que chamar à desideia?
Pois não, senhores artistas pomposos a maioria das obras a que não põem título parecem arlequins tresloucados, não transmitem nada a não ser vazio de ideias e intenções, não mostram atitude nem criam reacção!
É preciso ser muito bom para fazer uma obra de arte falar e viver por si fora do regaço do criador!
Dediquem-se ao giz e não se deixem encantar por pozinhos de perlim-pim-pim!