18
Jul20
Sem corpo ou mundo
Rita Pirolita
Não sei se aquilo de que vou falar tem alguma explicação em psicologia ou psicanálise mas sinto ainda mais agora o que sempre senti desde que me sei como gente, desde que tenho memórias, desde os 3 anos.
Um desconforto enorme por estar neste mundo como se a minha existência estivesse desajustada no tempo e no espaço, quase errada, sinto-me excesso, à parte, apartada, pensar este corpo atribuido é estranho, não me reconheço, não me sou familiar ou una, este corpo errado ou certo não o sinto meu. Sinto distância, desempatia, sinto-me ludibriada na raça a que devo pertencer.
Tenho nojo e ao mesmo tempo pena de pedófilos, assassinos, ladrões, gente má e sovina, das vitimazinhas e das almas infelizes e em sofrimento dos agressores, dos velhos velhacos e dos putos sem criação.
Sou a única? Talvez este mundo tenha surgido para outro tipo de seres que não eu, aqui serei sempre trucidada pela malvadez e complicação do simples.
Poderei ser uma experiência do universo para ver até onde chegam almas levadas à exaustão da mentira.
Não me extingo tão facilmente mas este nunca será o meu corpo nem o meu mundo.