11
Ago19
Lamúrias de rico
Rita Pirolita
Todos os ricos dizem que se esforçaram muito para chegar onde chegaram, que engoliram sapos e fizeram das tripas coração, que começaram a fortuna a limpar retretes, blá, blá, blá...
OK, chega de tanta carnificina e coisas viscosas! Quanto às retretes, eu também já limpei muitas, incluindo a de cá de casa e continuaria a limpar a merda dos outros se não tivesse mudado de trabalho.
OK, chega de tanta carnificina e coisas viscosas! Quanto às retretes, eu também já limpei muitas, incluindo a de cá de casa e continuaria a limpar a merda dos outros se não tivesse mudado de trabalho.
Ninguém cai nessa lamúria, já todos chegamos à conclusão que a trabalhar ninguém lá chega e que esse estado de graça se consegue com muita, mas muita sorte, estar no sítio certo e no momento certo para agarrar a oportunidade.
Até ao último suspiro todos estamos sempre alerta para um furo!
Se me dissessem que com a minha pobreza, toda a injustiça, fome e guerra desapareciam, era capaz do sacrifício mas também porque não sou rica e por isso não sei se seria difícil abdicar de boa vida, mesmo para salvar o mundo.
Se fosse rica os pobres não seriam da minha responsabilidade, teria um massagista/chef vegan, sempre on call, aliás se fosse bem parecido até podia viver na casa de apoio à piscina.
PT? Ia dispensar, detesto fazer exercício e muito menos que me gritem aos ouvidos e me dêem ordens quando sou eu a pagar, mesmo que fosse para outras coisas.
Lembrem-se que já deixei lá atrás, a proposta do massagista e chef bem parecido, tudo num só.
Lembrem-se que já deixei lá atrás, a proposta do massagista e chef bem parecido, tudo num só.
Se tivesse coragem, mudava tudo em mim, desde a ponta dos cabelos às unhas dos pés, como sou pobre tenho que me contentar com o que tenho e fingir que 'estou feliz por mexer, ter dois bracinhos para trabalhar e se for preciso vou limpar escadas'. Coisa mais orgulhosamente pobre para dizer não há.
Se tivesse coragem tinha filhos e a nanny que os aturasse, ficam sempre bem na foto de família, é suposto ter herdeiros para deixar tamanha fortuna e mostrar que mesmo depois de parir três ou quatro bezerros continuo em forma, à custa de muito trabalho e sacrifício, nunca cirurgias.
A treta do 'sacrifício' tem sempre que se meter nas conversas dos ricos, haja oportunidade e pimba.
Notem, a casa que tenho não me foi oferecida pela câmara, não estou desempregada e não vivo de subsídios.
Sempre pertenci à classe de burros que trabalham para os ricos ficarem mais ricos e se enaltecerem com a esmola que dão aos desgraçadinhos! Eu e a maioria pagamos isto tudo.
Mas como já disse se estivesse do lado dourado não ligava a estas injustiças, já que seria graças a elas que quando me sentisse deprimida entrava no meu Mustang a chorar e a dizer mal da minha vida, com o cartão de crédito a saltar da Louis Vuitton para umas comprinhas ou mais uma viagem a locais modestos claro, só para desanuviar.
Com tudo isto seria uma pessoa além de linda por fora uma boa samaritana, que é uma coisa que não tem preço nem se pode medir, o que quer dizer, que não gastaria dinheiro a comprar lindeza interior, nem precisava de provar o grau de belezura das entranhas; não comeria animais, a não ser escargot; usava sempre vegan leather e fake fur; falaria tão bem inglês como escrevo português e o meu lema seria:
PROTEGER OS ANIMAIS E EXPLORAR AS PESSOAS.