Da nova à velha
Havia um tasqueiro lá para os lados do sol nascido que fazia massadas de marisco de comer e chorar por mais, tinha uma garrafeira de vinhos e aguardentes invejada duma ponta à outra.
Fez dinheiro, muito dinheiro no tempo em que ainda se fazia riqueza com restaurantes à séria, não com essas modernices de pastelarias de rissol, chamuça, bolo de arroz e uma sopinha aguada, para cliente de escritório que come pouco e mal, no tempo em que quem enriquecia sem vender o que anunciava eram os vendedores de automóveis, até hoje!
O Malhadinhas servia bons bifes à casa, coelho à caçador, arroz de cabidela o ano todo e de berbigão na época, a Marrafinha, sua mulher fartou-se das facas e refogados e foi para casa fazer costurices, viu-se o homem obrigado a contratar cozinheira, veio nova e boa no ofício, continuou porta aberta de cheiro ambrósio que se espalhava pela rua, entrava nas casas, tocava os cabelos e abria as narinas até a boca salivar!
Surgiu romance por entre cebolas e pimentos, iscas de figado e peixe fresco, santolas e sapateiras, vinho e licores, dono e cozinheira assumiram o sarrabulho até que um dia uma dor começou na perna, ninguém ia ligando, cansaço talvez de horas a fio a fazer refeições, já sendo chata a moinha foi ao hospital e deram-lhe com o mal acima da cintura, pulmões, estava avançada a peçonha, só saiu pela porta da eternidade.
O Malhadinhas insistiu em mais uma cozinheira, saiu-lhe fraca, já cansado começou a vergar, tinha casa aberta muitas vezes para 3 mesas, fechou, em ficando tropego, surdo e de mulher nova enterrada acabou nos braços da também já velha Marrafinha!