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As marchas de Orgulho Gay que no mês de Junho, quase por todo o mundo civilizado saem à rua, mostram gente nua e colorida a dançar, beijar-se e apalpar-se...
Ninguém é parvo, não precisamos que nos metam pelos olhos dentro, a imagem que todas as pessoas são diferentes e que a luta pelos mesmos direitos não são só de género são também de raça, religião, deficiência, crianças, velhos...
Todos os que têm um interesse comum a defender se agrupam, os políticos para roubar, os ricos para roubar, a igreja para roubar e todos os demais que não roubam mas também reivindicam tanta coisa que às vezes não sabem bem o quê.
O tema está na ordem do dia mas mal debatido e esgotado de tantos clichés. No fundo andamos todos a lutar pela liberdade e direito à diferença, mas as manifestações destes grupos, têm-se mostrado exibicionistas, vazias de conteúdo, intenção e conhecimento por parte dos participantes, carecendo de vozes representativas sólidas que possam ser levadas a sério, correndo o risco de cair numa brincadeira de crianças e não combater verdadeiramente e com inteligência que cale e tire a razão do ódio aos homofóbicos.
Imaginem se as pessoas que têm pancada por pés fossem para o meio da rua fazer uma manifestação pelos direitos e liberdade de haver pés limpos ou sujos, arranjados ou não, em quantidades razoáveis ou mesmo defender o controlo de qualidade em catálogos de pés?
Na escola sempre fui posta de parte por ser gira e tirar boas notas. Quanto à beleza só as que se consideram feias morrem de inveja, quanto à sabedoria ou inteligência, poderia dizer que não era tão burra como os outros.
Não morri por trauma ou bullying, fui sim bafejada com a sorte de não mexer nem uma palha para a selecção natural de pessoas com quem seria penoso conviver.
E agora?...Vou para o meio da rua com cartazes, celebrar o facto de não gostar de pessoas por ter sido alvo da sua inveja discriminatória???
Não preciso, todos os dias celebro a minha liberdade de acção e expressão, não convivendo com a maioria das pessoas que a podem tirar.
Se formos a ver bem, cada um de nós é um lobby em nome individual mas com muita vergonha de o assumir, por isso muitos se tentam encaixar num grupo, onde acabam por diluir a diferença e desaparecer como indivíduos, tornando-se numa amalgama pouco interessante, que por vezes gera sentimentos controversos e nada consensuais na sociedade.
Trata-se acima de tudo de conquistar o direito e liberdade de expressão e assunção do amor. O amor verdadeiro nunca estará em causa na cabeça de pessoas loucamente saudáveis, que se apaixonam sempre primeiro por pessoas.
Em época de frio intenso por altura do Natal fomos visitar uma tia-avó e ficamos por lá os dias suficientes para conhecer os cantos à casa, um deles era a casa de banho.
Este compartimento era destacado da casa, por isso sempre que a vontade apertava lá tínhamos que atravessar o ártico e não o átrio, chegávamos a uma casota escura com dois buracos abertos em moldura de madeira, era ali mesmo que nos sentávamos para arrear o calhau, o problema é que não tinham pensado nos rabos pequenos das crianças, por isso lá ficava eu empoleirada, a segurar o corpo em braços para não ir parar lá abaixo, nem me sobravam mãos para segurar uma revista, quanto mais cuspir no dedo para mudar de página.
A única vantagem deste WC pré-histórico, era a temperatura que apenas se igualava à da cozinha, graças ao enorme forno a lenha e que em dias frios dava um jeitaço, este ambiente tépido devia-se aos animais que dormiam por baixo em camas de palha e que podíamos cumprimentar pelos buracos onde enfiávamos as nádegas. Imaginem a visão destes pobres coitados ao olharem para cima!
Alberto Cavaco tinha vida de arrastanito da conquilha, licença em dia, três mulheres, duas de papel e a mais recente com menos de metade da sua idade!
Filhos que não se lembrava, já criados, só a última de 4 anos ainda a mamar, tinha foto na carteira.
Agradado e agraciado por mulherio, em segundo casamento engravidou a filha da mulher, à espera de casa da Câmara, secava peixe no terraço de sua mãe velhinha, onde vivia num acrescento de lusalite!
Na banca do mercado deixada pelo pai, entre muxama e polvo seco, dava saquinhos de flor de sal, a conquilha em baldes escondida noutra ponta do mercado era vendida à sucapa mais quilos que o que podia!
Herdada curiosidade de cozinha, era crente mais de fé que de escuteiro, quando bebia lia cartas da bisca aos estrangeiros, vivia em graça entre família, o seu Sporting e vinho branco!
Somos fraternos e malvados sempre e apenas em proveito próprio, uns egoístas portanto!
Bebemos 3 litros de água como se os rins fossem uma central electrica em esforço constante, comemos de 3 em 3 horas como ruminantes, temos empregados para nos pouparem o corpo e depois suamos as estopinhas num ginásio entre respiração e transpiração de estranhos, andamos nus nos balneários entre pé de atleta, coisas descaidas, outras nem tanto, de silicone umas mais que outras!...
Andamos com roupa do chinês a brincar ao chique-brega e trocamos de telemóvel sempre que sai a ultimissima versão, somos desdentados montados em Mercedes! Consultamos terapeutas com problemas de vida como os nossos, com disponibilidade para vender tempo a peso de ouro!
Vamos para as redes sociais descarregar raiva ou alimentar peninha porque à nossa volta já ninguém nos atura, destruimos o anonimato do virtual ao gostarmos de versões humanas romanceadas a ponto de marcarmos encontro real, conhecemos pessoas iguais às que nos rodeiam e para as quais já não temos paciência, acabamos por nada descobrir de novo e voltamos às frustrações e desilusões antigas.
Assim num retorno constante de procura da mudança ilusória vamos mantendo a estabilidade e segurança da estagnação cíclica!
Numa terra em que mais pedras haviam que lugarejo, Leonete olhava para horizonte cortado por montinhos tímidos mas que mesmo assim a impediam de ver o mar mesmo ali tão perto, naquela curva de esquina da terra os montes da sua aldeia pedregosa eram ilusões empapadas do além, estavam ali que nem eunucos de voz fina gritante, guardiões palermas do que para lá havia...havia aquilo que Leonete desconfiava, sendo a terra redonda o universo unia-se não se sabe bem onde, apesar dos olhos serem ferozes na curiosidade eram por demais incompletos e enganadores de propósito para que a alma ganhasse sonho, então terra convexa, universo côncavo para a abraçar e cativar no seu regaço.
Leonete já não muito nova mas ainda jovem movia-se de bochecha rechonchuda de querubim e roçar de coxas em meia de vidro, atarracada e entumescida sonhava ser astrónoma para lá daqueles montes, subiu então um dia à barragem para ajudar na decisão de percurso académico, já não chovia fazia meses, em terra empedrada só os calhaus mudavam de cor com a cacimba, ervas inóspitas cresciam recolhidas do vento, a barragem ia muito baixa, adivinhavam-se racionamentos de água para gente e animais, mesmo assim a paisagem era lunática como a vontade de Leonete que tanto se esticou para ver o mar que resvalou pela encosta até à água distante, tão lá em baixo, ficou estatelada de barriga ao relento virada para o lado que lhe deu mais jeito cair, quase a tocar a água com o corpo cheio de carrapetos de erva picosa e a cara repleta de pedrinhas pontiagudas, parecia um lombo de carne espetado de cravinho, alfinetes de cabeça gorda, ficou ali com o calor tépido a bater na cara e adormeceu de cansaço ao tentar vislumbrar o limite do céu, ficou inativa de corpo com os dedos da mão direita a tocar a água, durante uma noite e três dias ninguém a desconfiou ali, assumiram os vizinhos que tinha partido em estudos pela natureza!
Ao quarto dia e duas noites sem dormir a chuva assumou as margens e a água subiu, o corpo de Leonete flutuou como nunca, uma pena gorda, teve ela tempo de reflectir em meditação aquosa sobre o horizonte infinito com o seu cérebro finito e tão limitado que concebia apenas um ciclo fechado de cobra de boca no rabo, nunca um além em linha para lá de tudo e todos.
Decidiu logo ali que o enigma do universo estava resolvido na sua cabeça, deixou-se levar pela água barrenta até que foi recolhida pelo cajado do pastor eremita da aldeia seguinte, apaixonou-se ele por aquele corpo de bolota e ela pelas rugas de pó, viveram no limite do horizonte e Leonete levava almoço ao seu amado para lá de todos os montes, a salvo da finitude!